segunda-feira, 28 de junho de 2010

Copa do Mundo 2

Já tenho 9 Copas do Mundo de vida, a primeira de 78 devo ter visto no sobrado em Volta Redonda ou deitado no carrinho ou no colo, sem entender porque meu Pai tanto gritava ou porque o coração da minha Mãe batia tão rápido. A seguinte, também não me lembro de nada, mas em algum lugar das minhas memórias inconscientes deve estar a melhor seleção de todos os tempos e os primeiros churrascos em Candeias no Recife.

Quatro anos depois veio minha primeira Copa com memória e consciência, lembro do Araken na pequena TV Telefunken da sala e da eliminação para a França. Vimos a maioria dos jogos em casa, e depois da defesa do Bats fiquei vendo da janela aquele clima de luto na Praça General Osório no Rio. Por alguns anos o nome do goleiro Francês era o que eu gritava depois de cada defesa que fazia nas peladas do colégio.

Em 90 vi a eliminação para a Argentina sentado no chão de cara para a TV na festa de aniversário do meu Tio em Saquarema. O gol do Caniggia colocou água no chope e a festa acabou antes da hora. A vitória da Alemanha na final contra os Hermanos, comemorei numa Churrascaria em Copacabana. Sendo esse meu maior prazer até então em Copas do Mundo, descobria o gosto de ver nossos maiores rivais perderem.

Noventa e quatro foi o êxtase, minha primeira Copa, meu primeiro grito de Campeão do Mundo!

O jogo com Camarões assisti na UTI do Pró-Cardíaco, num baita susto que preguei em todos, mas mesmo assim meus pais conseguiram não só ver o jogo comigo, mas contrabandear salgadinhos para beliscar durante a partida. Depois, passado o susto, foi só alegria nos animados churrascos no apartamento de Botafogo que juntavam só gente alegre, e a molecada do Colégio começava a descobrir os prazeres do álcool. Comemorei o Tetra com a camisa 6 que o Branco usava no Flu, com corneta e bandeira no porta-malas do Fiat Prêmio da família pelas ruas da Zona Sul Carioca.

Em 98 fechamos uma pizzaria para ver os jogos com amigos e família, e não só perdemos a Copa para Zidane, como a pizzaria faliu. Morando em São Paulo aprendi o que era "zica"! Comecei também a desconfiar que um amigo meu, que tinha vindo do Rio para ver esse jogo com a gente, era pé-frio e provável "causador do desastre"!

Uma copa depois a torcida se reunia de novo na casa dos meus pais, agora mais Paulistanos que nunca, e os cafés-da-manhã eram bem coloridos. Viajando a trabalho, vi em Buenos Aires sozinho no Hotel a eliminação dos hermanos, e presenciei o que é um drama Argentino. Nós não conseguimos sofrer tanto quanto eles, somos muito alegres para isso! No dia seguinte, sozinho no mesmo quarto de Hotel, gritei para todo mundo ouvir a cada um dos cinco gols sobre a Costa Rica. Depois, ainda viajando a trabalho, consegui escapar de um jantar monótono para ver a vitória sobre a Inglaterra em um bar Brasileiro em Miami, e descobri o que é ser Brasileiro fora do Brasil, parece que ficamos ainda mais verde-e-amarelos! O título comemoramos em outro churrasco de aniversário, de um grande amigo, e diferente de 90, a festa ficou muito mais animada depois que o Cafú levantou a taça.

A última Copa, na Alemanha, foi a mais sem graça, nas reuniões com a família e os amigos já se sentia um clima estranho, de se ganhar ganhou, se não ganhar não ganhou. E quando fomos eliminados pela França, lá estava ele, meu amigo pé-frio, que tinha vindo de novo do Rio para ver o jogo. Apesar que ele também estava comigo no Tetra, estavam confirmadas minhas antigas suspeitas de duas Copas atrás e ponto final não vemos mais jogos da Copa juntos, principalmente contra a França!

Agora vejo a Copa Africana a 5.000 km de casa, num país que a torcida se divide entre Argentina, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha e Brasil, ou seja, torcem por qualquer um porque o importante é curtir a Copa. E como já sabemos, Brasileiro fora do Brasil é mais Brasileiro! Temos visto os jogos em churrascos - com carne e cerveja de qualidade duvidosa é verdade - mas com uma torcida esganada, alegre e cheia de orgulho Canarinho. Um deles, quando o conheci um ano atrás me disse "Não entendo qual a graça de ficar na frente da TV vendo um bando de homem correndo atrás da bola." No jogo contra a Coréia, ao ver Jong chorar no hino, ele me dizia: "Copa do Mundo é muito, muito, M-U-I-T-O bacana!" O jogo de hoje vimos em casa, entre caixas de papelão, barulhos de fita crepe e os moços da companhia de mudança andando para lá e para cá, mesmo assim todos (com exceção de um "do contra") paravam o que estavam fazendo e torciam com a gente a cada gol verde-e-amarelo.

Vamos Seleção, faltam 3 jogos e eu quero chegar aí para o Hexa!

Como cantarolava minha Mãe...

"A taça do mundo é nossa
Com Brasileiro não há quem possa
Êh, eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Hoy es un día especial...


Meu avô Sergio, nasceu 50 anos antes de mim, em uma pequena cidade do interior Paulista. Não existia TV, celular, internet, avião... Era outro mundo, além de outros tempos!

Filho de farmacêutico e dona de casa, saiu cedo para estudar em São Paulo e nunca mais voltou à Santa Cruz das Palmeiras. Casou-se com a linda moça que conheceu em seu baile de formatura no Copabana Palace, e com ela e três filhos foram quase 30 mudanças, pelo Brasil e até pelos EUA, e depois de muitos anos de uma vitoriosa carreira militar, uma cidade foi escolhida para viver, a Cidade Maravilhosa.

Hoje ele comemora 83 anos, quase nada de experiência... Muitas vitórias, algumas derrotas, muitas alegrias e tristezas também, e uma vida muito bem vivida sempre com uma saúde de ferro, uma força incrível e um caráter inquebrável. Como grande orador e escritor que é, sempre me marca com suas frases e histórias, e hoje depois de receber nossos parabéns "cara-a-cara" pelo Skype (isso mesmo ele usa Skype, internet, e-mail...) deixou mais um de seus ensinamentos:

"Aproveitem tudo que a vida tem de bom ao máximo, sempre. O bom é para já, para ontem, porque o ruim vem sem avisar."

E já que aqui é feriado, vamos colocar seu conselho em prática agora, cantando a canção Venezuelana de aniversário bem alto para ele ouvir a mais de 5.000 km:

Ay, qué noche tan preciosa, es la noche de tu día, muestran todos su alegría en esta edad primaveral.
Tus más íntimos amigos esta noche te acompañan, te saludan y desean un mundo de felicidad.
Yo por mi parte deseo, lleno de luz este día, todo lleno de alegría en esta fecha natal.
Y que esta luna plateada brinde su luz para ti, y ruego a Dios por que pases un cumpleaños feliz.

*Canción de cumpleaños tradicional de la cultura popular Venezolana, compuesta por Luiz Cruz e imortalizada por Emilio Arvelo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Copa do Mundo 1

Shakira dança o waka waka.
1.000 atores chineses torcem pela Coréia do Norte, enquanto seu craque o camisa 9, Jong, se acaba em lágrimas "só" com o hino nacional.
Domenech escala seus jogadores consultando os astros, Anelka xinga até sua quinta geração e a França se acaba em brigas e "greve de treino".
A Argentina joga com 12, tem Maradona "em campo" com direito a embaixadinhas e chaleiras. Ele é simplesmente o centro do universo, e Pelé seu arqui-rival.
A Suíça ganha da Espanha e uma repórter boazuda vira a culpada por ter distraído a parede Casillas.
E se não bastasse a Espanha, a Alemanha perde para a Sérvia, a Nova Zelândia empata com a Itália e a Inglaterra com Argélia e Estados Unidos. Afinal, as zebras na África estão em seu habitat natural!
Dunga é mais sacaneado que "guri cagado na escola" e chama a imprensa "pra porrada" enquanto o Brasil vai fazendo seu dever de casa.
No mais, tudo igual, a arbitragem continua errando geral, um monte de açougueiro devia entrar em campo de avental e cutelo, o Galvão continua falando demais e o Brasil jogando de menos, segundo a crítica "especializada".
Mas...
De uma hora para outra a África é o centro do mundo, corneta vira Vuvuzela, os negros não são minoria e o futebol nunca foi tão alegre, tem como não gostar de Copa do Mundo?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ilusão

Não controlamos nada
Tudo depende
E nada se entende
O que muitas vezes se pergunta.

Deixa a vida me levar
Já dizia o sambista
Mas que difícil é aceitar
Que dela nada levamos.

Cada vez mais nos iludimos
Pensamos que somos Deuses
E Deuses não somos
Apesar da internet e do genoma.

Aceitar essa realidade
Sair da ilusão
Quem sabe assim aceitamos
Que existe aquilo que sim
E existe aquilo que não.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tetê

Me levava de mãos dadas ao McDonalds, quando me comportava "direitinho".
E não deixava ser boca-suja e nem ficar "tão magrinho".
Sempre me dava um saco de "roque-roque" para comer vendo A Noviça Rebelde.
E pedia para eu falar "baixinho" nas missas de Domingo.
Nos ensinava a jogar buraco e algumas palavra de inglês.
E emprestava seus botões para que brincássemos de vendinha.
"Papai do céu abençoai o Papai, a Mamãe e toda a minha família" repetia depois dela.
E coçava minhas costas com suas unhas compridas, para me fazer dormir.
Ah, minha querida Vovó Tetê...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Cotidiano No. 2 - Vinicius de Moraes

Há dias que eu não sei o que me passa

Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Vinicius e Toquinho