sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Beisbol e Futebol

O Baseball inventado nos EUA é o esporte principal na Venezuela e assim como o futebol é a paixão Brasileira, por aqui o esporte de Babe Ruth, Barry Bonds e Mark McGuire movimenta o país de Outubro a Janeiro com o Campeonato Nacional.

O Fla-Flu Venezuelano no baseball  se chama Magallanes-Leones e depois de muitos anos os dois disputam o título nacional da temporada 2009-2010, jogando nesta noite a sétima e última partida.

O Navegantes de Magallanes, a mais antiga organização esportiva da Venezuela, foi fundado em 1917 em Cátia na Grande Caracas por um grupo de companheiros de bar em homenagem ao Lusitano Fernão de Magalhães, primeiro navegador a dar a volta ao mundo. Durante anos tiveram como principal rival o Royal Criollos, também de Caracas, e em 1941 a Venezuela vencia o Campenato Mundial de "Beisbol" (assim se escreve em Venezuelano) em Cuba e seus maiores ídolos, que jogavam no Royal Criollos, se mudavam para uma nova equipe chamada Cervecería Caracas. A rivalidade Royal-Magallanes foi herdada pelo Cervecería, que mais tarde nos anos 50, seria comprado e transformado nos Leones de Caracas, aproveitando o nome oficial da cidade, Santigo de León de Caracas e seu símbolo oficial, o leão.

Nos anos 70 os Magallanes mudaram-se para a cidade de Valencia e os Leones permaneceram como a equipe oficial de Caracas, mas a "fanaticada Magallanera" continuou fiel à sua equipe e até hoje os "Turcos", como são chamados os Navegantes, são a equipe mais popular do país e reunem a grande comunidade Portuguesa do país. Por outro lado, os "Melenudos" - cabeludos em español - como são chamados os Leões, são tidos como uma equipe elitesca, com menor torcida mas com mais "plata", tendo como casa o melhor estádio do país o Estado Universitário de Caracas.

Parecendo um Fla-Flu, uma final como esta com tanta história e rivalidade tem tomado conta do país, mas diferente do futebol não há violência entre torcidas e os jogos tem sido uma grande farra, com homens, mulheres e crianças de ambas equipes misturados nas "gradas", "sillas" ou "tribunas" tomando cerveja, whisky e comendo pizzas, tequeños, pipoca e cachorro-quente. Alguns jogos chegaram a durar mais de 4 horas e poucos torcedores acompanham o jogo inteiro sem tirar o olho do campo, mesmo os mais fanáticos sentam, levantam, saem para encontrar amigos, encarnam nos torcedores adversários e paqueram, ô se paqueram! As mulheres se "montam todas" em jeans apertados e blusas decotadas, sem esquecer o boné do time é claro, e vão desfilar no estádio. O telão do Universitário não mostra as repetições das jogadas (para evitar confusão) mas não perde uma beldade de vista!


O boné merece um parágrafo especial: é a parte mais importante da vestimenta do Beisbol, nenhum torcedor que se preze anda sem a "gorra" do seu time e quando ele precisa de sorte é só usá-la do avesso porque "dá liga"!

Entre mais semelhanças que diferenças, o Beisbol e o Futebol como todos esportes movem paixões, fazem homens virarem crianças e crianças virarem homens, chega a ser mais importante que política ou religião e uma grande razão para festa e hoje saberemos quem levantará a taça e "rumbeará" até o sol nascer na Venezuela...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

The Pixar Story

As grandes maravilhas na nossa história recente sempre tem uma pessoa, homem ou mulher, por trás delas. E mais importante que isso, mais forte que seus responsáveis, está o sonho, a crença e os valores que os movem.

Uma destas histórias é a de John Lasseter e seu sonho de fazer um longa metragem totalmente animado por computador, e pode ser vista no filme The Pixar Story de 2008.

John estudou animação na Universidade da Califórnia, e aprendeu com o grupo que criou Mickey Mouse na Disney, chamado de "Os 9 anciãos da Disney", técnicas de desenho e animação. Com muito talento e formando-se entre os melhores de sua turma, rapidamente foi contratado pela Disney para compor seu grupo de animadores, mas sua trajetória na mais importante companhia de entretenimento do mundo foi curta. John continuava com seu sonho de fazer um filme totalmente em computador e depois de vários ensaios, seu projeto foi considerado muito caro e sem futuro pelos executivos da Disney, em 1984 John foi demitido.

Sem emprego mas confiante de que estava no rumo certo conheceu um grupo de cientistas da Universidade de Utah que estavam desenvolvendo um software revolucionário para a Lucas Films, empresa de George Lucas criador de Star Wars, e começaram a trabalhar juntos.  Os primeiros trabalhos foram em alguns episódios de Star Trek e claro Star Wars, mas o investimento para chegar a um longa metragem produzido por computador era muito pesado para Geoge Lucas e o grupo começou a procurar novos investidores.

Em 1986 surge então Steve Jobs, que já era um bilionário com a criação da Apple, quem decide comprar a divisão de computação gráfica da Lucas Film por 10 milhões de dólares. São inaugurados então os Estúdios Pixar na Califórina. Com 44 funcionários em um edifício simples, num clima informal aonde reinavam a liberdade e a criatividade, a Pixar começa produzindo comerciais e curtas em computador.

Foram 9 anos de prêmios com curtas e comerciais de sucesso, mas o sonho de John continuava vivo e apesar dos resultados financeiros da empresa serem negativos, Steve Jobs acreditava nele e no grupo que queria transformar esse sonho em realidade.

Em 1995 o grupo de técnicos de computação e artistas da Pixar, liderado por John Lasseter, lançava TOY STORY, ironicamente distribuído e comercializado pela Disney atingindo $550 milhões em bilheteria. O sucesso foi tanto que a Pixar foi o IPO mais bem sucedido daquele ano, arrecadando $140 milhões na bolsa de valores, e depois vieram tantos sucessos como Toy Story 2, Vida de Inseto, Monstros S.A, Procurando Nemo, Os Incríveis, Carros, Ratatouille, Wall-E e UP todos distribuídos também pela Disney.



Como a história sempre reconhece os sonhadores-rebeldes-com-causa, e deixa esquecidos os que só olham para os números, o sucesso da parceria com a Pixar foi tanto que os acionistas da Disney resolveram oferecer uma fusão a Steve Jobs em 2006 num acordo de $7.4 bilhões, dando a ele uma vaga no board de acionistas do novo grupo. 

Desde então Pixar e Disney são a mesma companhia, porque a Disney vive de vender sonhos e disso John entende bastante!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Admiração

A admiração é uma das nossas capacidades mais importantes, apesar de não ser tão popular como amor, fé, sucesso, saúde, paz... Ninguém deseja no ano novo “Que você admire alguém este ano!” ou no aniversário do seu grande amigo “Parabéns, Zé, te desejo muita admiração, meu véio.”


Essa capacidade de admirar normalmente é notada pela primeira vez em nossas vidas na aula de artes quando desenhamos aquele boneco esquelético com uma cabeça enorme para representar a pessoa que mais admiramos, e todo pai ou mãe guarda esse retrato e mostra para todos “a obra de arte” com o maior orgulho. Algumas vezes a admiração é até mais criativa e o pai aparece com capa de Superhomem e a mãe com o laço de Mulher Maravilha.

Mais tarde a admiração já passa para um bilhetinho com letrinhas verdes “Você é linda. Ass: Seu Admirador Secreto” que deixamos entre as folhas do caderno da menina mais bonita da sala. Normalmente ela lê, dá um sorrisinho e guarda junto aos outros dez bilhetinhos que recebeu dos outros admiradores.

Passada a fase dos primeiros foras vem o momento fã: a mulherada vira admiradora daqueles roqueiros cabeludos e os caras deliram com um autógrafo do artilheiro do momento. É um tal de colar pôster no quarto, escrever cartas, colecionar figurinhas, usar as mesmas roupas e gírias.

Depois dessa febre adolescente, a admiração se volta para os livros, para os pensadores e para professores da universidade. As idéias políticas começam a florescer, aquela vontade de mudar o mundo toma conta e nossos líderes juvenis são os escolhidos para essa missão.

Chega então outra etapa da admiração, a que se sente pela cara-metade e a sua magia por trás de outro sentimento, o mais místico dos místicos, o amor.

A vida a dois está mais para maratona que para cem metros rasos, e nessa corrida a admiração marca a diferença entre correr descalço e correr de tênis. Admirar o outro, seja por sua capacidade em propor uma solução para o Haiti como para a vida de seus pacientes, é delicioso. Fica melhor ainda quando se admira sua sensibilidade para transformar o medo que uma criança tem de cachorro em uma brincadeira, e vira êxtase quando tudo é tão natural e se encaixa como se fossem peças de um quebra-cabeça.

No próximo aniversário vou desejar: “Te desejo muita admiração! Que você possa descobrir os prazeres de admirar.”

sábado, 16 de janeiro de 2010

Resiliência tá na moda?!

Recentemente no portal da HSM Global, Jamil Albuquerque e Leonardo Grapeia, em dois artigos diferentes escreveram sobre o valor da resiliência para executivos no mundo dos negócios. O mesmo tema tem acalorado discussões entre psiquiatras e pedagogos, e até as forças armadas já treinam soldados para serem resilientes.

Jack Welch deve ter telefonado ou Freud mandado uma mensagem onírica para Hugo Chávez, porque para começar 2010 ele se esmerou em provar a capacidade dos Venezuelanos de “acumular energia quando exigidos ou submetidos a extrema pressão, voltando em seguida ao seu estado original, sem qualquer deformação, como um elástico.”

A última segunda-feira foi o dia em que o ano começaria na Venezuela, as escolas retomariam suas aulas, as férias coletivas acabariam nas empresas, partições públicas e comércio voltariam ao seu ritmo normal de trabalho. “Voltamos cheio de objetivos e planos para o novo ano”, dizia um comerciante de Caracas, “mas chegou a sexta-feira e parece que o ano ainda não começou!”

Três dias antes do “início do ano” Chávez anunciou a desvalorização do Bolívar,  e ainda por cima na própria segunda-feira deu início a um plano controverso de cortes massivos de energia por todo o país. Tudo parou! Hospitais e escolas suspenderam suas atividades, semáforos desligados colapsaram o trânsito e  empresas acabaram liberando seu pessoal pelos cortes de luz. Com a desvalorização, anunciada de supetão, importadores ficaram sem entender as regras novas, gerando desabastecimento de alimentos e remédios, e alguns comércios que possuíam estoques aumentaram seus preços e foram fechados pela Guarda Nacional Bolivariana.

O bom-humor caracteriza os Venezuelanos de maneira parecida a nós Brasileiros. As piadas mais ouvidas sobre a crise são: “Feliz 2011, porque 2010 ya lo cagaron!” e “La mejor salida para este país se llama aeropuerto!” Um suíço que vive há alguns anos em Caracas contava que admira esse bom-humor e não o vê como uma alienação ou fuga. Dizia que uma situação semelhante na Suíça ou na Alemanha lotaria os centros psiquiátricos, e que aqui a maneira de reagir é com bom humor e alegria porque a pesar de tudo a vida continua.

Na mesma semana os Haitianos também tiveram, de uma maneira muito mais grave, sua resiliência colocada à prova e tantas histórias tristes e catástrofes mobilizaram o mundo, e por um lado ajudaram os Venezuelanos a ver que seus problemas eram pequenos murinhos comparados ao paredão que desabou em Port-au-Prince.

O elástico esticou, esticou, esticou mas não rasgou!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Haiti é aqui?

Dois amigos sentados num fino restaurante Paulistano beliscavam patas de King Crab do Pacífico acompanhados de um fino espumante francês para papear sobre as férias.

Fernandão dizia:

“Meu, Nova Iorque nunca esteve tão insuportável! Uma fila de uma hora na loja da Apple, mesa para o brunch do The Plaza só com reserva dois dias antes e ingressos para a Broadway nem na mão do nosso amigo Jack. Sem falar na barulheira em Times Square?! Decidimos não ficar no apartamento e ir para um hotel. E o pior, tudo por causa da massa Tupiniquim que invadiu a cidade.”

“Nem me fale!” dizia Toninho.

“E o Caribe então, meu velho?! Levamos uma hora dando voltas para conseguir pousar em St. Martin, encostar o iate em qualquer praia? Impossível! A pousada ao lado da nossa casa também era uma zona só. Dormir só no barco! E o “pobrema”? O mesmo que Niu Iorqui, a Brasileirada tomou tudo!”

Chico que servia os dois ouvia partes da conversa, mas não estava preocupado com o papo, sua cabeça estava em outro lado...

“Trezentos reais por mês em 10 anos dá para comprar um Celta "zero bala". Por 10 de 50 consigo aquele "AI num sei das quantas" que é telefone, toca música, tira foto e é chique demais. Será que com os 20% de liquidação na Zara consigo montar aquele “visu” para impressionar a Andréia?”

Distraído, Chico virou a bandeja de osobuco no costume Ricardo Almeida de Bernardo e ouviu aquele esculacho: “Cacete, meu!” O gordinho careca foi logo tirando o paletó e colocando na mesa tudo que tinha nos bolsos: caneta Montblanc, carteira Luis Vuitton, IPHONE e Blackberry. Almeida, o gerente, correu para resolver o problema oferecendo levar tudo ao tintureiro e ainda por cima um jantar por conta da casa já que o cliente era importante. Bernardinho aceitou porque também não pegava bem dar um escândalo na frente de Melissa. Era o segundo encontro com a modelo/estudante de direito, e não valia à pena perder a chance de desbravar todo aquele milagre da cirurgia plástica por causa de uns reais em roupa grã-fina.

Melissa aprovou o comportamento do rapaz, e ficou ainda mais entusiasmada quando além de pagar novamente a conta, a convidou para um final de semana em Punta Del Este com uns amigos socialites. Quando chegou o carro dele no valet, então, delirou! Seria a primeira vez que entraria num Cayenne, que as amigas já tinham falado tanto.

Na banca de jornal do outro lado da rua se podia ler por todos os lados:

“Brasil: como superamos a crise.”
“Olimpíada e Copa do Mundo em 2014 aquecerão ainda mais a economia.”
“2015 o ano em que o Brasil será primeiro-mundo.”
“São Paulo será um dos cinco principais pólos de consumo do mundo.”

No final da história, o que diriam Caetano Veloso e Zilda Arns...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Trade-offs of an Expat

Palavras em inglês povoam o mundo corporativo quase tanto quanto os senhores engravatados em seus ternos escuros. Duas palavras deste dicionário são trade-off e expat, a primeira se refere à troca intrínseca à toda decisão que se toma, o ganha-e-perde de qualquer escolha, e a segunda é a abreviação de expatriate, os expatriados, como são chamados os executivos que saem de sua terra natal para viver em outros países a trabalho.

No último dia 3 no caderno de empregos de O Globo foi publicada uma reportagem chamada “Trabalho Nômade” na qual o assunto central era a exigência de muitas empresas pelo trabalho fora do seu país de seus executivos, a tal expatriação.

As empresas entendem que a flexibilidade, capacidade de adaptação e compromisso exigidos do funcionário nesse processo são benéficos para o resultado de seus negócios. O trade-off para a empresa é que esse processo custa caro, envolve além do pacote normal de todo funcionário, pagamentos de aluguel, escola para as crianças, carro e passagens aéreas para toda a família.

Pelo lado do executivo, a troca seria: recebem-se novos desafios, oportunidades e aprendizado e perdem-se hábitos, rotinas e o convívio de família e amigos. O final de ano para todo expat é o período de matar as saudades, o interesse não é conhecer novos lugares, fazer novas aventuras e sim gozar dos sabores de casa, ouvir as novidades, e trocar afeto e carinho ao reunir a tribo.

Com as baterias recarregadas eles partem de volta às suas missões, espalhados pelo mundo, levando por aí a nossa brasilidade, nossos costumes, nossas riquezas e nossas imperfeições.

Içar as velas, marinheiros!