sábado, 24 de abril de 2010

Acabaram as locadoras?!

Podem me perguntar aonde eu estava que só percebi agora o fim das locadoras de filmes?!?!


Quando cheguei na Venezuela dois anos atrás sempre passava na Blockbuster para alugar uns filminhos para o final de semana. Depois com a falência da Block, entrei na onda do pirata. Vi filmes com barulho de gente comendo pipoca, gente levantando na frente da tela e até com áudio em russo. Cansado de entrar no golpe do golpe do pirata, hoje me levaram ao "melhor lugar de DVD Pirata" de Caracas.


Apesar da recomendação ter sido feita quase no mesmo tom de "o melhor restaurante Português de Caracas", não podia deixar de imaginar uma "banquinha" em algum beco Caraqueño, com um Chinês falando "Tlês pô déis" como nas famosas feirinhas paulistanas, mas esse "business" aqui em Caracas está muito desenvolvido! Que Chinês? Que banquinha? O lugar era uma loja! L-O-J-A! E dentro de um shopping badalado, entre uma loja de moda feminina e outra de artigos esportivos!


Você estaciona seu carro, sobe dois lances de escada rolante e chega à MegaVideo. Logo na porta a vendedora te diz "Boa tarde, posso ajudar?" e em seguida leva você até a sessão "EN CARTELERA" aonde estão os filmes em cartaz no cinema. Como nos velhos tempos de locadora, reduto da minha geração VHS e o empreendimento da moda nos anos 90, ela faz suas recomendações, indicando esse ou aquele filme, falando bem e mal da atuação dos atores, e sempre apontando um imperdível. Também como nas Blockbusters, existem as prateleiras de ação, comédia, romance, etc e uma de "RECUERDOS" com os clássicos "versão DVD piratex".  Só fiquei sem saber se tinha aquela salinha escondida, aonde só entravam maiores de 18 anos e estavam as fitas mais desejadas pela molecada...


É, como diz minha mãe, acho que vou acabar como peça de museu também.



quarta-feira, 21 de abril de 2010

A hora H

Tenho medo de ficar velho. Medo da barriga despencar, dos pêlos das orelhas crescerem muito e de começar a queixar-me do pé, das costas e do cotovelo. Medo do HDL baixar, da A1C subir, do ácido úrico virar meu assunto preferido e aquele chá para o diabetes minha maior descoberta. 

Não deve ser fácil!

Fiquei pensando nisso nestes dois últimos dias em que tenho trabalhado com um grupo de 30 jovens de 50 a 80 anos, e pode parecer absurdo mas só agora acho que chegou o medo. Por que? Ah, porque passei dos 30 e caiu a ficha que também vou ficar velho?! Deve ser...

Me perguntava se existe felicidade entre tantas dietas, comprimidos, exames, preocupação e dicas de saúde de todo mundo, incluindo a vizinha, o porteiro e o taxista de confiança?! Caramba, viramos experimentos de medicina ambulantes?! Só servimos para isso?!

Não deve ser fácil!

Antes de constatar outra vez que não deve ser fácil vi um grupo de velhinhos gargalhando em alto e bom som! Cheguei mais perto para escutar de rabo de orelha e pude ouvir o menorzinho deles, com boina, calça e camisa puídas e sandálias de couro, contando o golpe que um dia aplicou na esposa e na filha para fugir de casa e encontrar os amigos para o jogo de dominó. Ele contava "seu feito" e todos acompanhavam passo-a-passo, sem piscar, e logo após o suspense, depois do gran finale, os outros velhinhos da roda praticamente começaram a abraçá-lo dando os parabéns como se o moleque tivesse roubado um beijo da menina mais bonita da escola.

Não aguentei de curiosidade e perguntei a um deles quando a rodinha se desfez:

"Por que ele não podia sair de casa?"

"Tava com o açúcar alto no sangue", respondeu.

Não deve ser fácil!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O encontro com a arte

“Cada vez mais precisamos da arte” escutei de um Venezuelano, filho de militares, que sempre viveu no mundo dos negócios, e descobriu a arte depois de três décadas. “E a boa notícia é que hoje em dia temos os meios para que todos possam ser artistas” dizia ele.

Em sua conferência em Caracas sobre “O que é cinema?”, Giuseppe Ferrara, cineasta Italiano, afirmava:

“Uma câmara gravando o que passa na rua é cinema.”

E quando confrontado pelo público que dizia: “De ser assim, está decretada a decadência da arte. Uma criança escrevendo em um caderno não faz literatura!” respondia: “O valor artístico pode ser discutido, mas uma criança escrevendo o que for, é literatura!”

Chegamos a um momento na história em que o indivíduo mais do que nunca passa a ter liberdade e poder. Com exceção de alguns países que vivem sob a mão forte do controle à liberdade de expressão (vivo em um deles), hoje cada um de nós pode expressar-se livremente, artisticamente e ter o poder da informação. De maneira relativamente barata e fácil temos acesso a um universo, e mais do que isso, selecionamos aquilo que queremos receber.

A internet tem possibilitado esse movimento, e com ela a arte é cada vez mais universal, criando novas e alternativas vias aos grandes meios de comunicação, permitindo que cada um “dê seus pulos” de escritor nos Blogs, de fotógrago em sites como Flickr, de cineasta e até atores no Youtube e de músico no MySpace, para citar alguns exemplos...

Através dela dois grandes artistas cruzaram meu caminho, pelo simples acaso e pela facilidade de estarem a apenas alguns clicks de "distância": Omar Salomão e Francisco Blanco.

O primeiro conheci (se é que pode-se dizer assim?) quando comecei a ler seus poemas no blog O Bom Leão por indicação de uma amiga em comum, e me surpreendi em vê-lo descrito pelo jornalista Ricardo Noblat da seguinte maneira:

"Omar Salomão nasceu no dia 14 de janeiro de 1983. Publicou seu primeiro livro À Deriva em 2005 e fez parte da banda carioca VulgoQuinho e Os Cara. Poeta multimídia, está na antologia digital ENTER de Heloísa Buarque de Hollanda. Envolvido também com fotografia, Omar é um dos mais talentosos poetas da nova geração."

O segundo, cheguei até ele comentando em um churrasco em Caracas que queria fazer um curso de Fotografia e um rapaz que tinha acabado de conhecer me deu um telefone e um nome Francisco Blanco. No blog vi o grande artista que esse tal Francisco é, ganhador de concursos municipais e latino-americanos de fotografia. Francisco seguiu a carreira do pai de Publicitário, mas acabou enchendo o saco de “modelos boazudas” para vender cerveja e se rebelou como fotógrafo. Ao final do curso perguntei: "Qual foi essa grande frustração com o mundo da propaganda?"

"Vem desde pequeno quando fui ao estúdio de gravação com meu pai e vi um personagem infantil famoso tirando a cabeça de pelúcia!"

Que bom, Fran, devemos a ele o surgimento de um grande fotógrafo...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tocar? E pode?!

Um dos meus blogs favoritos é o do Peter Bregman que escreve na Harvard Business Review. Bregman tem sido genial em falar sobre liderança do ponto de vista mais humano que há. Suas metáforas são sempre experiências como pai de duas pequenas meninas, traçando paralelos com o esporte ou com o dia-da-dia da vida comum. Escreve de uma maneira simples, objetiva e prazerosa de ler, fugindo sempre dos cases da Forbes 500, das listas de bullets ou números para passar sua mensagem, o que é raro hoje em dia no mundo dos negócios.

Estou aqui enchendo a bola do Bregman, pela primeira vez escrevo sobre ele, mas depois dessa introdução confesso, estou escrevendo para criticar seu último post! Caramba, nunca falei bem em tantas bolas dentro que ele deu, e na primeira fora, já vem a crítica?! Asi es...

Bregman no seu útlimo post fala sobre a importância do toque, do contato físico, para nós humanos. Fala do poder de comunicar, de transmitir confiança, apoio e de motivar as pessoas que tem um tapinha nas costas. Então me pergunto: será que alguém não sabia disso? Não entendo!

Conheço bastante a cultura americana, mas não estamos falando de uma técnica de motivação, algo que os gerentes devem usar, mas com cuidado, sem "pegar muito" porque se não o que poderia dizer o RH? (Cuidado para não gerar mais um dos milhões de casos de harassment!) Estamos falando de seres humanos, e da maneira que o tema é proposto é capaz das empresas começarem a preparar (se é que já não prepararam?) "Política de contato físico no ambiente laboral"... O RH fará o draft, que será discutido em duas reuniões do Comitê Executivo, e depois quando aprovada pelo CEO será colocada na Intranet para consulta de todos os colaboradores.


Como disse, entendo perfeitamente o que faz o autor abordar o contato físico dessa maneira, e por isso quem sabe o que escrevo não seja nem uma crítica mas talvez uma constatação, porém não deixo de me assombrar com a maneira desumana que hoje se faz negócios. E em questões de liderança existe uma linha tênue entre o que é técnica e o que é humano. Então, ao invés de sair pegando em todo mundo da sua equipe, que tal colocá-los como prioridade na sua agenda deixando aquela reunião com a agência de publicidade em segundo plano?! Usando uma frase que aprendi na London Business School: Leadership is about being more of yourself, more skilfully. Conhecer algumas técnicas é importante, mas o que você é não se ensina, e isso é o mais importante em liderar um grupo de seres humanos.

O bom, é que a ficha já caiu, e quem quiser sobreviver na seleção natural do mundo corporativo tem que entender essa mudança!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Fusca

Poucos anos atrás o Fusca virou moda, o bom e velho Volkswagen voltou às ruas desfilando todo o charme dos seus anos dourados. Fusquinhas nariz de bruxa dos anos 50, com motor 1.300 dos 60 e até os Fafá de Belém dos 70 trouxeram boas lembranças voltando restaurados para as garagens.

Além de resgatar o prazer de dirigir sem ABS, direção hidráulica e ABS, com o braço apoiado na janela, vento no rosto e folga no volante, o efeito mais bacana dessa saudade Fusqueira foi resgatar as memórias de todo mundo 30+. Frases como "Meu pai tinha um 66 cor de abóbora", "Foi o primeiro carro que dirigi" e "Quando éramos namorados, levava minha esposa todos os domingos ao cinema num 68 vermelho do meu tio" eram ouvidas na calçada ao lado de qualquer Fusca recauchutado em pleno desfile.

A mais engraçada, ouvi de um médico de Cuiabá, lembrando dos seus tempos de adolescente...

"Minha avó me emprestava o Fusquinha branco para eu dar umas voltas com os amigos. Numa dessas a turma se empolgou na cachaça, final de ano, Natal chegando e aquele clima de festa! Errei a mão na birita e voltando para casa, na Avenida principal, ficava o Presépio da Cidade. Não sei se dormi antes ou depois de não conseguir fazer a curva, mas entrei em cheio no Presépio. Tomei um susto danado acordando entre José, Maria e o Menino Jesus na manjedoura e só percebi que não tinha partido dessa para a melhor, chegando direto ao paraíso, quando vi um pessoal vindo ajudar. O Fusca, duro que nem pedra, saiu inteirinho da barbeiragem!"

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O que é, o que é? - Gonzaguinha





O Que É, O Que É?

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...
E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Andar do bêbado

Esse é o título de um livro do físico Leonard Mlodinow sobre o acaso e como ele afeta nossas vidas. A partir de modelos matemáticos o autor busca mostrar que em boa parte da nossa vida não somos nós que estamos no controle e sim o acaso.

Não li o livro, e talvez nem venha a ler, porque não consigo entender um de seus exercícios que mostra como é mais provável achar um Maserati atrás de uma entre três portas escolhendo uma e depois mudando a escolha, que simplesmente escolhendo uma, mas esse não é o caso, o caso é definitivamente o acaso!

Ouvi uma entrevista no rádio da escritora Isabel Allende e quando perguntada sobre a razão do seu sucesso ela respondia:

“He tenido mucha suerte!”

A repórter tentava mudar a resposta questionando sobre a importância de ter vivido em tantos países, de ter fugido do Chile em plena ditadura, de ser sobrinha de Salvador Allende e filha de diplomatas. E ela insistia:

“Suerte!”

O livro, Isabel Allende, a física, a psiquiatria... Existem vários caminhos para procurar entender que o acaso tem um papel muito importante em nossas trajetórias, e que muitas vezes pouco importa nossos planos, nossos esforços e realizações, à revelia de tudo isso, ele simplesmente acontece.

Apesar de nossas mentes não terem “saído de fábrica” com a função “aceitar o acaso”, temos que fazê-lo e Marcelo Dourado está aí para comprovar...