Sai preguiça! Fica preguiça!
Quando é chegada a virada do ano sempre fazemos promessas, sempre pensamos em mudar alguma coisa em nossas vidas. As promessas típicas são emagrecer, fazer exercício e deixar de fumar, e essas normalmente nunca dão certo. Temos uma capacidade enorme de prometer e depois mesmo vestindo branco, saltando sete ondas e comendo romã elas terminam como começaram, como promessas.
Fiquei por uns momentos pensando no que iria prometer para o ano que vem. Fazer exercício foi de cara a mais urgente, seguida por telefonar mais para as pessoas que gosto e economizar mais uns trocados por mês. Achei em seguida que as três tinham por trás uma mesma causa: preguiça. Para simplificar então a lista de promessas, as três virariam uma só: xô preguiça!
A palavra preguiça veio do latim e como sabemos significa moleza, indolência e vadiagem. Um conhecido mamífero que habita nosso continente, por sua lentidão e 14 horas de sono diárias acabou ganhando o nome de Bicho-Preguiça, e esse animal estranho me fez entender um outro lado da preguiça...
O Bicho-Preguiça se alimenta somente de folhas e como esta alimentação proporciona pouca energia, seu corpo economiza em tudo: longas horas de descanso, movimentos lentos, digestão que dura quase um mês inteiro e baixas temperaturas corporais. A Preguiça é bem adaptada ao seu ambiente, e uma espécie bem sucedida na rigorosa seleção da natureza.
Pensando sobre o sucesso da Preguiça, voltei à minha promessa de ano novo e resolvi que não quero me livrar dessa malemolência, preciso sim saber regulá-la... Então a promessa será: vou usar melhor a preguiça em 2010!
Quando sentir preguiça para uma corrida no parque num dia de sol, xô preguiça! Quando sentir saudade de alguém e der preguiça de telefonar para dizer "Oi, tudo bem?", xô preguiça! Quando me der vontade de comer uma coisa e der aquela preguiça de supermercado, xô preguiça!
Mas...
Hoje em dia em um mundo em que tudo é produção e a velocidade é instantânea a preguiça não pode ser abandonada, ela é fundamental para manter a nossa espécie.
Quando sentir preguiça para ficar no sofá enroscado com a minha família e deixar aquele e-mail sem ser respondido por algumas horas, fica preguiça! Quando sentir preguiça para não fazer nada e deixar aquele livro de "Liderança" de lado, fica preguiça! Quando sentir preguiça para jogar conversa fora com os amigos na beira da piscina ao invés de ler o jornal de Domingo, fica preguiça!
2010 o ano da preguiça...
Feliz ano novo!
domingo, 27 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
Pêlos por que tê-los?!
Nós homens temos uma relação engraçada com os pêlos que aparecem pelo nosso corpo...
Primeiro, rezamos e torcemos para que cheguem e comemoramos a aparição de cada um deles, mesmo quando não passam de penugem. Contamos quantos temos com o maior orgulho, e quando ganham consistência, viram a primeira prova pública da nossa masculinidade. Quando jovens: “Pêlos, queremos desesperadamente tê-los!
Ironicamente, algumas décadas mais tarde, quando passam a crescer desproporcionalmente e resolvem ficar brancos, o efeito é contrário, incomodam. Os primeiros que crescem pelas orelhas e nariz não são celebrados, senão recebidos com xingamentos e rapidamente removidos. Há também quem acredite que quando arrancados se multiplicam e, por isso, adotam várias artimanhas para escondê-los. Mais tarde vem o grande dilema: pinto ou deixo branco? Cada um possui sua estratégia, mas em conclusão, quando mais velhos: “Pêlos, não queremos tê-los?!
Acabei de ler Into the wild de Jon Krakauer que deu origem ao filme Na Natureza Selvagem de 2007, e o livro fala sobre um jovem universitário que abandona tudo para viver uma vida errante em contato com a natureza pelo oeste Americano. Além de narrar toda essa dramática história verídica, que termina com a morte por inanição do jovem rapaz na tundra do Alaska, o autor discute o que estava por trás dessa aventura. Seria irresponsabilidade? Algum distúrbio psicológico? Problemas com os pais? Ou simplesmente a inexperiência e um forte desejo de auto-afirmação de um adolescente?
Se me perguntarem minha opinião, fico com as últimas duas.
Como sabemos, pelos estudos da psicologia e psiquiatria na adolescência, é parte da formação de um adulto a revolta, os questionamentos, a necessidade de ser diferente e independente dos pais nessa etapa. Em maior ou menor escala, todos os homens passam por esse processo, e ainda por cima temos um rival, um competidor, o outro macho, o pai!
Nessa fase as brigas são mais freqüentes, mais intensas e as afinidades parecem desaparecer. Não é fácil para nenhum lado, mas é esse o processo para a formação de um homem adulto. Além dos enfrentamentos, a combinação da necessidade de provação e afirmação com a uma grande quantidade de inexperiência e inocência, pode ser explosiva. E é esse o pano de fundo do livro, quando para ser diferente de seu pai e mostrar que não depende mais dele, Chris acaba se arriscando demais e paga por isso com a própria vida, em uma história muito triste.
Nesse contraste de força, coragem e hormônios versus sabedoria, paciência e experiência, a natureza não é onipotente a ponto de reunir tudo em um mesmo momento, e deve ter uma razão para isso que ainda desconheço, mas o conflito do velho e do novo é um tema que ocupa tantas famílias, principalmente nessa época do ano, com a chegada do Bom Velhinho.
É fundamental, como diziam minhas professoras de redação, uma conclusão a este texto, porém confesso que não tenho um ponto final para a questão. Com a chegada dos primeiros pêlos indesejados e a poucos dias de reencontrar meus pais, avós, primos, tios, amigos e sobrinhos, o único que consigo deixar escrito para concluir é:
Feliz Natal!
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
O Tigre sendo devorado
Tiger Woods, o Príncipe-Bom-Moço do Golf, escorregou e agora com ele caído, é hora de devorá-lo!
O ataque das hienas é fulminante com novas amantes, mensagens no celular, cafetinas e pesquisas de opinião. Não é de hoje que a estratégia das hienas é atacar em grupo, em massa, sem deixar a vítima levantar-se ou defender-se, usando a vantagem numérica e a surpresa contra o tamanho e a força de sua presa. E assim está Tiger Woods, no chão, sendo devorado...
Enquanto isso de longe, seus “aliados“ e patrocinadores, ficaram avaliando o tamanho do estrago para decidir se entravam na briga ou debandavam, deixando o Tigre entregue a seu próprio destino. Os grandes monstros Gatorade, Gilette e Accenture decidiram usar a estratégia da Pantera Cor de Rosa e saíram pela direita. O único que não abandonou Tiger foi a Nike.
Tomando essa inteligente decisão a marca de equipamento esportivo Americana reforça seus valores e comprova porque tem tantos consumidores fiéis e apaixonados. Seus executivos entendem perfeitamente que sua marca não depende só de um tênis confortável e bonito, mas de criar um vínculo com o consumidor, fazê-lo sentir-se representado, parte do mundo Nike. Não abandonando Tiger e mantendo o patrocínio ao atleta, a marca confirma, sem gastar um dólar, tudo o que ela busca representar na mente de seus seguidores como perseverança, lealdade, espírito de equipe, superação e resiliência. Valores mais esportivos, impossível?! Parabéns, Nike, bela jogada.
Quanto ao Príncipe-Bom-Moço do Golf, tomara que a chegada de Papai Noel, do ano-novo, ou quem sabe de outro escândalo do mundo das celebridades dê uma chance para o Tigre levantar-se, sacudir a poeira e retomar seu caminho. GO TIGER!
domingo, 13 de dezembro de 2009
Uma questão de autoridade
Internet e liberdade de imprensa no nosso dia-a-dia, “empregabilidade” e liderança nas empresas, variedade de ofertas e forte concorrência na economia, países cada vez mais diversos e democráticos... E tem gente que ainda acredita na força da autoridade!
O Pai que educa na base “da porrada”, o chefe que “toca o terror”, o policial que usa força bruta, o funcionário público que intimida e o político que pergunta “Sabe com quem você tá falando?”. Traços de épocas passadas, de uma sociedade que ainda traz esses maus hábitos e se esforça para soltar-se destas amarras.
O poder que vem de uma condição de superioridade é cada vez mais mal visto quando usado com truculência, na base da intimidação e da prepotência.
Em tempos de Youtube e Facebook, quando uma empresa usa seu poder não dando uma resposta a um consumidor insatisfeito, vídeos com sátiras e comunidades “Eu odeio a empresa tal” vão ao ar, ganham força e audiência. Também pela internet e pelos amiguinhos com pais mais sintonizados aos tempos de hoje, o filho descobre que há respostas diferentes do “Porque não!” que escuta em casa. Com as investigações jornalísticas, câmeras escondidas e gravadores, o serviço público tem que ajustar-se finalmente ao nome que lhe cabe, e bem servir seus cidadãos. O chefe que fala "Manda quem pode, obedece quem tem juízo!" vai aprender da maneira mais difícil, que estamos na era da liderança, quando times mais comprometidos e dinâmicos deixarem o seu para atrás.
Ninguém está falando em anarquia! Regras, limites e hierarquias são as bases para uma boa convivência em sociedade, que ganham novos aliados como a transparência, a liberdade de escolha e o respeito à diversidade. E estes são os tempos modernos em que vivemos, gostem ou não, são as novas regras do jogo e não há volta atrás.
Uma empresa, um chefe, um pai, precisa respeitá-las para ser bem sucedido seja lá qual for seu objetivo, e assim quem sabe ganhar a tão sonhada admiração de seus consumidores, colaboradores ou daquele que ainda tem alguns dentes-de-leite para cair que acaba de fazer tudo errado.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Claudinho e Buchecha ou Villa-Lobos?
Terminou ontem em Caracas o III Festival Villa-Lobos com um grande concerto da Sinfônica Juvenil de Caracas regida por Isaac Karabtchevsky e solos de José Staneck e Leo Gandelman. Na mesma noite a Globo Internacional transmitiu o especial Por Toda Minha Vida contanto a história da dupla de funk, MCs Claudinho e Buchecha.
O Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis é um orgulho Venezuelano, e assim como o Funk nas comunidades carentes do Rio de Janeiro, é uma prova viva do poder de transformação social da música.
Há quase quarenta anos atrás o Maestro José Abreu queria criar uma orquestra em que os músicos praticassem em conjunto, e desse simples desejo de integrar, valorizando a paixão pela música de uma maneira descontraída e alegre, surge um projeto que hoje envolve mais de 350.000 jovens e crianças, reconhecido internacionalmente pelos principais prêmios da música clássica e berço de gênios como o jovem Maestro Gustavo Dudamel, atual regente da Filarmônica de Los Angeles.
Além de tocar música clássica de alta qualidade, é de uma força impressionante ver e ouvir estes pequenos músicos, que muitas vezes não conseguem seque colocar os pés no chão quando sentados, tocarem estes instrumentos de adultos sérios. Foi emocionante presenciar ao final de um grande espetáculo com músicos do quilate de Gandelman, Staneck e Karabtchevsky a comemoração espontânea da garotada batendo os pés no chão e gritando “Uhhhhhuuuuu!” E depois de todo aquele entra e sai tradicional ao final de um concerto, o abraço apertado que o sisudo maestro deu no primeiro violinista, um moleque de seus 15 anos com o paletó mais largo que seus ombros. Impressionante, de arrepiar!
Independente de gostos, técnicas e valores de um gênero ou de outro - porque para quem gosta, música é música e ponto final – Claudinho e Buchecha são exemplos do seu poder social assim como a Orquesta Juvenil de Caracas.
Nascidos no Buassú, perto de Niterói no Rio de Janeiro, os dois amigos de infância, como os outros milhões de crianças que nascem na mesma realidade, tinham à sua frente poucas, ou muito poucas, pouquíssimas oportunidades de crescimento. E apesar disso os dois viraram um fenômeno da música popular no final dos anos 90, chegando a vender 3 milhões de discos. Sem nenhuma preparação musical, mas com a voz bonita de Buchecha e a obstinação de Claudinho, começaram escrevendo com o dicionário no colo músicas sobre a comunidade em que viviam, e entre bicos como servente de pedreiro, camelô e vendedor, foram virando músicos.
As favelas Cariocas desde que começaram a organizar-se em comunidades tem possibilitado histórias como a desses dois rapazes. Através dessa organização e união de seus moradores, Claudinho e Buchecha encontraram apoio, receberam incentivo e foram eleitos seus representantes nos concursos de funk, e assim puderam pela primeira vez subir ao palco.
Depois deste début, veio uma série de sucessos que viraram temas obrigatórios de programas de auditório, festas, festivais de música e, é claro, Bailes Funk. A garotada virou fanática pela dupla, e o ritmo dançante, romântico com tantas “danças requebrantes” contagiaram o país todo. Nos meus primeiros anos de faculdade, Claudinho e Buchecha era o CD mais tocado no meu primeiro carro, nos churrascos e festas que organizávamos. Quando os conheci, no MTV Awards de 1999, pude trocar meia dúzia de palavras com eles e ver com meus próprios olhos que apesar de usar toda aquela indumentária HipHop e estar no meio da nata da música Brasileira, o jeito brincalhão, a simpatia e o andar de mãos dadas com as namoradas de infância, agora esposas, ainda era de dois meninos da Comunidade do Salgueiro.
Claudinho e Buchecha ou Villa-Lobos? Os dois, porque a música não pode parar!
sábado, 5 de dezembro de 2009
Antes máquinas ameaçadoras, hoje micro computadores domésticos
"Ao contrário do que vaticinara Artur Clarke, o físico e escritor autor de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (levado ás telas por Stanley Kubrick em 1968), a recente evolução tecnológica se orientou para o espaço interior dos microcomputadores e dos chips de silício, antes de povoar os planetas e o espaço sideral com bases e naves terrestres. O ano 2001 saudou a informática e vestiu os indivíduos (os não-varridos pelo arrastão neoliberal, naturalmente) - no aconchego de seus gabinetes - com teclados, mouses e monitores integrados ao micro, em vez de lançá-los à odisséia errante nos arredores de Júpiter, encerrados em módulos metálicos silentes, em litígio com gigantescas e alucinadas máquinas computacionais. Comunicação via Internet em lugar do isolamento ano-luzente. O silício (re)solvendo o silêncio.
" 2001 do silencio ao silício". Roland Azeredo Campos, Caderno Mais. Folha de S.Paulo, 25.03.01.
"Os recursos proporcionados pelos micros desenvolvidos a partir dos anos de 1980, desde os softwares voltados para as artes até as complexas simulações objetivando estudos científicos, agilizaram notavelmente a interdisciplinaridade e permitiram, das permutas entre os setores, a emergência de conexôes e parcerias imprevistas. Justifica-se assim a fusão vocabular expressa no título do presente livro. O subtitulo destaca os decursos desses estranhos veículos significantes arte-científicos que, movendo-se em sintonia nos tocam. E que, amalgamados, talvez se tornem proximamente um paradigma robusto. De foz em fora, entramos no século XXI. Sem a proliferação de naves e bases terrestes no sistema solar vaticinada pela ficção de quarenta ou cinquenta anos atrás. Sem o conflito com supercomputadores hostís, como o HAL de 2001 : Uma Odisséia no Espaço. Ao contrário : com micros amigáveis, que vestimos em viagens virtuais pelos túneis das telas de cristal líquido. A rigor, o périplo é dos signos, em trânsito pelas veias-teias de silício dos chips, e dos nossos neurônios, em vaivéns filiformes. Recebendo e rebatendo bits. Noves fora , Il primo bacio della´prile é nosso!
Cumpre-se a profecia peirciana: o homem potencializa sua vocação sígnica. "
In: ARTECIENCIA
Afluência de sígnos co-moventes.
Câmara Brasileira do Livro. São Paulo Brasil.
Coleção Big-Bang, dirigida por GITA K. GUINSBURG.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Canja de Galinha, paciência e jogo de cintura não fazem mal a ninguém
Inspirado num texto que recebi do meu pai supostamente escrito pelo Alexandre Garcia, resolvi viajar na janelinha!
Abre parênteses. Se é realmente do autor ou não, não sei, mas é bacana e vale á pena ser lido, então coloco ao final do post. Fecha parênteses.
A viagem começou tumultuada porque perdi a hora de acordar e o táxi também chegou atrasado, mas como a estrada para o aeroporto às 4 da matina está bem livre, conseguimos recuperar o tempo.
Depois do check-in, mais tranqüilo que não perdi o vôo, veio o segundo imprevisto, não tinha dinheiro vivo para pagar a taxa do aeroporto e o único caixa eletrônico do aeroporto estava “fuera de servicio”.
A saída passou a ser trocar dólares com os carregadores de mala e taxistas de plantão na área de desembarque. O problema é que a Guarda Nacional estava fazendo um “operativo” no aeroporto e todo mundo estava com as “atividades” suspensas temporariamente. Liguei para um amigo que me indicou um amigo que resolveria meu problema, e quando falei com ele me disse: “Nos vemos en el baño al lado de la aduana”.
De frente para a parede fingindo um xixi, fiquei pensando, tomara que seja amigo do amigo mesmo porque para eu me dar mau nesse banheiro vazio é fácil. Antes que eu pudesse pensar em que utensílio de um banheiro público melhor serviria como arma branca, entrou o senhor banguela com o uniforme de carregador de malas, me entregou um bolo de notas de 20 bolívares e levou a notinha de 100 dólares que sempre levo de emergência na carteira, sem dizer uma palavra. Conferi o dinheiro e saí me sentindo “o malandrão”, curtindo a adrenalina do ilícito!
A outra chateação veio quando embarquei e vi que a viagem seria bem mais desconfortável que o esperado. Na hora que vi meu lugar, lembrei da cara mau-humorada da agente da linha aérea quando perguntei: “Hay más espacio para las piernas en la salida de emergencia?” A resposta: “Claro que si!” A seguinte pergunta que fiz: “Y el asiento reclina?” Outra resposta super simpática: “Si.” Última pergunta: “Hay ventana?” Última resposta balbuciada: “9K.” E minha confirmação alegre: “Perfecto”, comemorando, “Vou de janelinha na saída de emergência!” Mas não foi bem assim...
O assento estava espremido entre um senhor de seus quase duzentos quilinhos (típico peso-pena Venezuelano), uma porta de emergência que não deixava minha perna direita entrar e um banco que não reclinava. Como não tinha outro lugar livre no “buzão alado” pensei: “Samba do avião cantado pelo Tom e a vista do amanhecer pela janela vão melhorar essa viagem”, mas o IPOD estava sem bateria.
O que fazer?
Nada.
Lembrei da Sra. Marta e sua frase: “Relaxa e goza!” mas lembrar dessa personalidade do nosso mundo político não ajuda nesses processos de “contenção de encostas”, então lembrei do texto do Alexandre Garcia e sem gozar, relaxei.
Com paciência e jogo de cintura os PROBLEMAS ficam mansinhos, e a Cordilheira dos Andes entre a Colômbia e a Venezuela vista da janelinha uma beleza de encher os olhos.
Por Alexandre Garcia .
Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista, cada vez mais rápido até a decolagem.
Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.. Tudo era novidade e fantasia..
Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.
As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.
O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.
Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.
Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.
Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?
Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, os amigos , tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.
Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe.
Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.
... em sua proxima viagem prefira sentar na janelinha !
Abre parênteses. Se é realmente do autor ou não, não sei, mas é bacana e vale á pena ser lido, então coloco ao final do post. Fecha parênteses.
A viagem começou tumultuada porque perdi a hora de acordar e o táxi também chegou atrasado, mas como a estrada para o aeroporto às 4 da matina está bem livre, conseguimos recuperar o tempo.
Depois do check-in, mais tranqüilo que não perdi o vôo, veio o segundo imprevisto, não tinha dinheiro vivo para pagar a taxa do aeroporto e o único caixa eletrônico do aeroporto estava “fuera de servicio”.
A saída passou a ser trocar dólares com os carregadores de mala e taxistas de plantão na área de desembarque. O problema é que a Guarda Nacional estava fazendo um “operativo” no aeroporto e todo mundo estava com as “atividades” suspensas temporariamente. Liguei para um amigo que me indicou um amigo que resolveria meu problema, e quando falei com ele me disse: “Nos vemos en el baño al lado de la aduana”.
De frente para a parede fingindo um xixi, fiquei pensando, tomara que seja amigo do amigo mesmo porque para eu me dar mau nesse banheiro vazio é fácil. Antes que eu pudesse pensar em que utensílio de um banheiro público melhor serviria como arma branca, entrou o senhor banguela com o uniforme de carregador de malas, me entregou um bolo de notas de 20 bolívares e levou a notinha de 100 dólares que sempre levo de emergência na carteira, sem dizer uma palavra. Conferi o dinheiro e saí me sentindo “o malandrão”, curtindo a adrenalina do ilícito!
A outra chateação veio quando embarquei e vi que a viagem seria bem mais desconfortável que o esperado. Na hora que vi meu lugar, lembrei da cara mau-humorada da agente da linha aérea quando perguntei: “Hay más espacio para las piernas en la salida de emergencia?” A resposta: “Claro que si!” A seguinte pergunta que fiz: “Y el asiento reclina?” Outra resposta super simpática: “Si.” Última pergunta: “Hay ventana?” Última resposta balbuciada: “9K.” E minha confirmação alegre: “Perfecto”, comemorando, “Vou de janelinha na saída de emergência!” Mas não foi bem assim...
O assento estava espremido entre um senhor de seus quase duzentos quilinhos (típico peso-pena Venezuelano), uma porta de emergência que não deixava minha perna direita entrar e um banco que não reclinava. Como não tinha outro lugar livre no “buzão alado” pensei: “Samba do avião cantado pelo Tom e a vista do amanhecer pela janela vão melhorar essa viagem”, mas o IPOD estava sem bateria.
O que fazer?
Nada.
Lembrei da Sra. Marta e sua frase: “Relaxa e goza!” mas lembrar dessa personalidade do nosso mundo político não ajuda nesses processos de “contenção de encostas”, então lembrei do texto do Alexandre Garcia e sem gozar, relaxei.
Com paciência e jogo de cintura os PROBLEMAS ficam mansinhos, e a Cordilheira dos Andes entre a Colômbia e a Venezuela vista da janelinha uma beleza de encher os olhos.
Por Alexandre Garcia .
Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista, cada vez mais rápido até a decolagem.
Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.. Tudo era novidade e fantasia..
Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.
As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.
O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.
Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.
Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.
Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?
Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, os amigos , tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.
Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe.
Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.
... em sua proxima viagem prefira sentar na janelinha !
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