Já tenho 9 Copas do Mundo de vida, a primeira de 78 devo ter visto no sobrado em Volta Redonda ou deitado no carrinho ou no colo, sem entender porque meu Pai tanto gritava ou porque o coração da minha Mãe batia tão rápido. A seguinte, também não me lembro de nada, mas em algum lugar das minhas memórias inconscientes deve estar a melhor seleção de todos os tempos e os primeiros churrascos em Candeias no Recife.
Quatro anos depois veio minha primeira Copa com memória e consciência, lembro do Araken na pequena TV Telefunken da sala e da eliminação para a França. Vimos a maioria dos jogos em casa, e depois da defesa do Bats fiquei vendo da janela aquele clima de luto na Praça General Osório no Rio. Por alguns anos o nome do goleiro Francês era o que eu gritava depois de cada defesa que fazia nas peladas do colégio.
Em 90 vi a eliminação para a Argentina sentado no chão de cara para a TV na festa de aniversário do meu Tio em Saquarema. O gol do Caniggia colocou água no chope e a festa acabou antes da hora. A vitória da Alemanha na final contra os Hermanos, comemorei numa Churrascaria em Copacabana. Sendo esse meu maior prazer até então em Copas do Mundo, descobria o gosto de ver nossos maiores rivais perderem.
Noventa e quatro foi o êxtase, minha primeira Copa, meu primeiro grito de Campeão do Mundo!
O jogo com Camarões assisti na UTI do Pró-Cardíaco, num baita susto que preguei em todos, mas mesmo assim meus pais conseguiram não só ver o jogo comigo, mas contrabandear salgadinhos para beliscar durante a partida. Depois, passado o susto, foi só alegria nos animados churrascos no apartamento de Botafogo que juntavam só gente alegre, e a molecada do Colégio começava a descobrir os prazeres do álcool. Comemorei o Tetra com a camisa 6 que o Branco usava no Flu, com corneta e bandeira no porta-malas do Fiat Prêmio da família pelas ruas da Zona Sul Carioca.
Em 98 fechamos uma pizzaria para ver os jogos com amigos e família, e não só perdemos a Copa para Zidane, como a pizzaria faliu. Morando em São Paulo aprendi o que era "zica"! Comecei também a desconfiar que um amigo meu, que tinha vindo do Rio para ver esse jogo com a gente, era pé-frio e provável "causador do desastre"!
Uma copa depois a torcida se reunia de novo na casa dos meus pais, agora mais Paulistanos que nunca, e os cafés-da-manhã eram bem coloridos. Viajando a trabalho, vi em Buenos Aires sozinho no Hotel a eliminação dos hermanos, e presenciei o que é um drama Argentino. Nós não conseguimos sofrer tanto quanto eles, somos muito alegres para isso! No dia seguinte, sozinho no mesmo quarto de Hotel, gritei para todo mundo ouvir a cada um dos cinco gols sobre a Costa Rica. Depois, ainda viajando a trabalho, consegui escapar de um jantar monótono para ver a vitória sobre a Inglaterra em um bar Brasileiro em Miami, e descobri o que é ser Brasileiro fora do Brasil, parece que ficamos ainda mais verde-e-amarelos! O título comemoramos em outro churrasco de aniversário, de um grande amigo, e diferente de 90, a festa ficou muito mais animada depois que o Cafú levantou a taça.
A última Copa, na Alemanha, foi a mais sem graça, nas reuniões com a família e os amigos já se sentia um clima estranho, de se ganhar ganhou, se não ganhar não ganhou. E quando fomos eliminados pela França, lá estava ele, meu amigo pé-frio, que tinha vindo de novo do Rio para ver o jogo. Apesar que ele também estava comigo no Tetra, estavam confirmadas minhas antigas suspeitas de duas Copas atrás e ponto final não vemos mais jogos da Copa juntos, principalmente contra a França!
Agora vejo a Copa Africana a 5.000 km de casa, num país que a torcida se divide entre Argentina, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha e Brasil, ou seja, torcem por qualquer um porque o importante é curtir a Copa. E como já sabemos, Brasileiro fora do Brasil é mais Brasileiro! Temos visto os jogos em churrascos - com carne e cerveja de qualidade duvidosa é verdade - mas com uma torcida esganada, alegre e cheia de orgulho Canarinho. Um deles, quando o conheci um ano atrás me disse "Não entendo qual a graça de ficar na frente da TV vendo um bando de homem correndo atrás da bola." No jogo contra a Coréia, ao ver Jong chorar no hino, ele me dizia: "Copa do Mundo é muito, muito, M-U-I-T-O bacana!" O jogo de hoje vimos em casa, entre caixas de papelão, barulhos de fita crepe e os moços da companhia de mudança andando para lá e para cá, mesmo assim todos (com exceção de um "do contra") paravam o que estavam fazendo e torciam com a gente a cada gol verde-e-amarelo.
Vamos Seleção, faltam 3 jogos e eu quero chegar aí para o Hexa!
Como cantarolava minha Mãe...
"A taça do mundo é nossa
Com Brasileiro não há quem possa
Êh, eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro."
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O pe frio sou eu meu camarada! E na final estaremos juntos quer vc queira ou nao! Pra frente Brasil!
ResponderExcluirEm 1 de julho de 2010 06:54, SJA Vicel escreveu:
ResponderExcluirVi e Nato
Em clima de COPA e de despedidas bolivarianas, hoje comecei meu dia com um verso de Pessoa, no livro que estou lendo:
Para ser GRANDE, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê TODO em cada coisa.
Põe o quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda brilha,
porque alta vive !
Pensei que estes versos falam muito de voces e do momento de sua despedida de Caracas:
- Na palestra que Renato me enviou, do alpinista Bubendofer, ele fala em agir sempre com PAIXÃO , pois é a PAIXÃO que move as pessoas rumo ao NOVO, e que a REPETIÇÃO , ou a rotina, acaba matando a PAIXÃO...
- Aí em Caracas, como na vida, esta busco do NOVO e a crença na PAIXÃO mostrou-se ser a maior característica de voces dois como CASAL, que se entregam por INTEIRO e tanto buscam no dia-a-dia da casa, dos amigos, e do trabalho, e nas viagens, e nas trilhas de aventuras, o NOVO, e a tudo se entregam com PAIXÃO.
Que voces continuem se entregando com PAIXÃO, INTEIROS, em tudo que fazem,
e sempre apaixonados pela vida e um-pelo-outro,
e apaixonando a todos que os cercam!
Beijos,
Sergio