Já escutei por aí que o fogo além de mudar o curso da humanidade como ferramenta, utensílio doméstico ou arma, foi fundamental para a nossa existência, simplesmente como objeto de contemplação.
A vida moderna de hoje não deixa muito espaço para a contemplação, para o nada, para o vazio. Estamos sempre pensando, conectados, ativos, on line, cuidando de alguma coisa, produzindo, agindo ou reagindo.
Um momento de solidão, de silêncio, em que o tempo passa no vácuo da nossa existência faz falta, me faz falta...
Reunião, e-mail, internet, celular, trânsito, aeroporto, televisão, jornal, livro, comida, bebida, notícias, previsões, planos, contas, cifras, tendências, futuro, comunicação, probabilidade, versatilidade...
Com tanta velocidade, o tempo encurta e se fazer uma coisa de cada vez já é difícil, não fazer nada é impossível e mau visto.
Quando criança me lembro de adorar ver a vida passar da janela, acompanhar um senhor idoso fechar o portão de sua casa, caminhar até a padaria e voltar com um saquinho de pão francês debaixo do braço. Lembro de olhar para o céu com prazer em ver os urubús voando alto em círculos, e vibrava ao ver um Kadett GSi branco pintar lá no início da rua, não desgrudava os olhos dele até virar à direita na próxima esquina.
Hoje sinto o mesmo prazer de criança quando consigo um momento de silêncio, vazio, fazendo nada, em que posso sentir cada instante daqueles poucos minutos. Vejo, ouço, cheiro. sinto e saboreio o tempo, a vida.
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