domingo, 15 de agosto de 2010

Teto Solar

Já escutei por aí que o fogo além de mudar o curso da humanidade como ferramenta, utensílio doméstico ou arma, foi fundamental para a nossa existência, simplesmente como objeto de contemplação.

A vida moderna de hoje não deixa muito espaço para a contemplação, para o nada, para o vazio. Estamos sempre pensando, conectados, ativos, on line, cuidando de alguma coisa, produzindo, agindo ou reagindo.

Um momento de solidão, de silêncio, em que o tempo passa no vácuo da nossa existência faz falta, me faz falta... 

Reunião, e-mail, internet, celular, trânsito, aeroporto, televisão, jornal, livro, comida, bebida, notícias, previsões, planos, contas, cifras, tendências, futuro, comunicação, probabilidade, versatilidade...

Com tanta velocidade, o tempo encurta e se fazer uma coisa de cada vez já é difícil, não fazer nada é impossível e mau visto.

Quando criança me lembro de adorar ver a vida passar da janela, acompanhar um senhor idoso fechar o portão de sua casa, caminhar até a padaria e voltar com um saquinho de pão francês debaixo do braço. Lembro de olhar para o céu com prazer em ver os urubús voando alto em círculos, e vibrava ao ver um Kadett GSi branco pintar lá no início da rua, não desgrudava os olhos dele até virar à direita na próxima esquina.

Hoje sinto o mesmo prazer de criança quando consigo um momento de silêncio, vazio, fazendo nada, em que posso sentir cada instante daqueles poucos minutos. Vejo, ouço, cheiro. sinto e saboreio o tempo, a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário