quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Haiti é aqui?

Dois amigos sentados num fino restaurante Paulistano beliscavam patas de King Crab do Pacífico acompanhados de um fino espumante francês para papear sobre as férias.

Fernandão dizia:

“Meu, Nova Iorque nunca esteve tão insuportável! Uma fila de uma hora na loja da Apple, mesa para o brunch do The Plaza só com reserva dois dias antes e ingressos para a Broadway nem na mão do nosso amigo Jack. Sem falar na barulheira em Times Square?! Decidimos não ficar no apartamento e ir para um hotel. E o pior, tudo por causa da massa Tupiniquim que invadiu a cidade.”

“Nem me fale!” dizia Toninho.

“E o Caribe então, meu velho?! Levamos uma hora dando voltas para conseguir pousar em St. Martin, encostar o iate em qualquer praia? Impossível! A pousada ao lado da nossa casa também era uma zona só. Dormir só no barco! E o “pobrema”? O mesmo que Niu Iorqui, a Brasileirada tomou tudo!”

Chico que servia os dois ouvia partes da conversa, mas não estava preocupado com o papo, sua cabeça estava em outro lado...

“Trezentos reais por mês em 10 anos dá para comprar um Celta "zero bala". Por 10 de 50 consigo aquele "AI num sei das quantas" que é telefone, toca música, tira foto e é chique demais. Será que com os 20% de liquidação na Zara consigo montar aquele “visu” para impressionar a Andréia?”

Distraído, Chico virou a bandeja de osobuco no costume Ricardo Almeida de Bernardo e ouviu aquele esculacho: “Cacete, meu!” O gordinho careca foi logo tirando o paletó e colocando na mesa tudo que tinha nos bolsos: caneta Montblanc, carteira Luis Vuitton, IPHONE e Blackberry. Almeida, o gerente, correu para resolver o problema oferecendo levar tudo ao tintureiro e ainda por cima um jantar por conta da casa já que o cliente era importante. Bernardinho aceitou porque também não pegava bem dar um escândalo na frente de Melissa. Era o segundo encontro com a modelo/estudante de direito, e não valia à pena perder a chance de desbravar todo aquele milagre da cirurgia plástica por causa de uns reais em roupa grã-fina.

Melissa aprovou o comportamento do rapaz, e ficou ainda mais entusiasmada quando além de pagar novamente a conta, a convidou para um final de semana em Punta Del Este com uns amigos socialites. Quando chegou o carro dele no valet, então, delirou! Seria a primeira vez que entraria num Cayenne, que as amigas já tinham falado tanto.

Na banca de jornal do outro lado da rua se podia ler por todos os lados:

“Brasil: como superamos a crise.”
“Olimpíada e Copa do Mundo em 2014 aquecerão ainda mais a economia.”
“2015 o ano em que o Brasil será primeiro-mundo.”
“São Paulo será um dos cinco principais pólos de consumo do mundo.”

No final da história, o que diriam Caetano Veloso e Zilda Arns...

3 comentários:

  1. Cuidado Filhão ! Senti uma puxadinha "bolivariana" em seu comentário...
    A vida segue, com haitis e invasões brazucas em N. York e St Marteen !
    O importante ';e que o Brasil segue sendo "a bola da vez", e abrindo espaço para as escaladas sociais das classes C, D, E ... fazendo a GOL abrir loja na Rodoviária e no Brás, a CVC se tornar uma das maiores agencias do Con tinente, e a AVON vender o sonho de ser bela a todas as breguettes do país !
    .. e o PSDB dizer que ele é que é a esquerda 9com todo Chapã frances do FHC !).
    Viva o crescimento e tomara que cresçamos juntos!

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  2. A linha entre prosperidade e futilidade, crescimento e deslumbramento é muito tênue... Olhos abertos! A "puxadinha" já mudou até meu apelido: de Carioca passei a Bolivarioca!

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  3. Talvez a Dra. Zilda Arns dissesse o mesmo que ouvi na novela das oito na voz de Natalia do Vale:
    "NOSSAS FAMÍLIAS SÓ SE REUNEM EM TORNO DE CAIXÔES, MAS AINDA BEM QUE A NOSSA NÃO É ASSIM..."
    SIM! O BRASIL ESTEVE LÁ ENQUANTO HAVIA HAITI.
    QUANTO A CAETANO VELOSO.........DEIXE-O CANTANDO APENAS.

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