segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

E-mail de um maluco 2

Menos de uma semana depois de receber um e-mail do Ricardinho atestando sua loucura por estar feliz na Venezuela, acabo de receber outra mensagem eletrônica dele, e agora quem está preocupado com sua sanidade sou eu… 

(Esse veio em Português, acho que a melancolia não fala outro idioma.)

Meu irmão, tava pirado mesmo quando te mandei aquele e-mail da semana passada! Cara, em menos de 48 horas mudei completamente de opinião, bota uma fé?!?! Isso aqui é uma bosta!!!!! Quero vazar logo!!!!! Vamos fugir deste lugar, como diria Gil!!!!!!!

Renatinho, tudo começou na quinta passada logo cedo. Cheguei no escritório e o Esteban me mandou descer para o Porto para resolver a liberação do famoso container na Alfândega. Levei três horas para percorrer os 50 km e descobri que o engarrafamento era por um Corcel ”0 km” quebrado no túnel. Chegando lá, depois de esperar 2 horas num calor desgraçado, consegui achar o Fiscal responsável e a primeira coisa que o cara me disse foi:

“- Não consegui checar a mercadoria porque estou gripado e entrar na área refrigerada do armazém sem um casaco, impossível! Você não tem uma jaqueta bacana da sua empresa para me dar?”

Saí para comprar uma jaqueta para o cidadão e quem disse que eu achava o Shopping de La Guaira? Como os endereços não tem número, e placa nas ruas não existe, cheguei no muquifo na base da pergunta, com um medo danado de entrar em roubada. Passei em cada lugar sinistro, mas acabei achando a tal espelunca. Deixei o carro no meio da rua, tive que dar a volta numa pilha de lixo e depois de escolher o casaco, a loja não aceitava cartão. Claro, que quando viram meu sotaque resolveram me enfiar a faca! Tive que trocar dólar a 4 x 1 (puta roubo!) para conseguir uma jaqueta dos Tiburones pro cara.

Voltei à alfândega e o Fiscal, agora de jaqueta, demorou mais duas horas e não liberou a mercadoria, disse que falta uma inspeção da Guarda Nacional e provavelmente na semana que vem estaria liberado.

Subindo de volta para Caracas pensando em como explicar ao Esteban que ficaremos mais uma semana sem produto, jogaram uma pedra no meu carro antes da passarela, mas óbvio que não parei para não virar estatística. Estourou o pára-brisas legal, e para conseguir trocar já viu?! Vou ficar de metrô e táxi de novo mais uns meses...

No escritório o principal cara da minha equipe (que deveria ter ido à Alfândega porque é trabalho dele mas estava com a mamãe no médico) veio me perguntar qual seria o “extra”que receberia pela participação em um Projeto Global da empresa. Dei gargalhada, achando ótima a piada e ele me falou sério:

“Ricardo, fui contratado como Gerente de Comércio Exterior na Venezuela. Se vou participar de um Projeto Global de Supply Chain, gostaria de rediscutir meu pacote salarial.”

Fiquei em choque! Me fez tão mal, Renatinho, que deixei ele sem resposta e fui tentar almoçar na padaria do outro lado da rua, sozinho com meus botões. Queria tomar um café com leite gostoso e um sanduíche de queijo, mas fiquei na vontade. Me dizia o Dono que queijo importado não chega desde que virou o ano com a desvalorização.

Sem saber se voltava para o escritório ou não, vi o telefone tocar. Era o Esteban.

“- Ricardo, preciso que me mande um quadro com propostas para cortar 10% dos custos da sua área até o final do dia, ok? Como não vendemos nada até agora, o lucro do ano já está comprometido e nem eu nem meu chefe vamos perder o bônus de novo!”

Na hora pensei no “Gerente”da minha Equipe e sua proposta de pacote salarial, mas só ele não dava os 10%, dava uns 5%. Peguei o guardanapo e comecei a rabiscar, teria que cortar também a festa de final de ano, o curso de inglês da moçada e cancelar minha participação na reunião do Global Supply Chain. Era o único jeito...

Mandei minha proposta pelo BlackBerry para o Esteban e ele me respondeu:

“Ok, favor implementar asap!”

No escritório, entrei mudo, resolvi o que o Esteban pediu, e saí calado para levar o carro na Concessionária. Tentei chamar um táxi mas nenhum apareceu e os da rua não tinham nem banco. Tive que pegar o metrô lotado na “hora pico”e cheguei em casa como se estivesse saído de uma sauna aquecida a óleo.

A rua estava sem luz, tive que ligar para a Luisa descer porque o portão queimou de novo e só abre na chave. Depois de subir onze andares pela escada achei que o dia iria melhorar, mas a Luana estava com febre e vômitos de novo (bem que o Marcos falou para parar de tomar bebida com gelo). Resolvi levá-la na Clínica e ficamos 5 horas esperando para ser atendidos na emergência, e quando chegou nossa vez uma senhora que parecia bem mal chegava com a filha dizendo que essa era a quarta Clínica Particular que tentavam ser atendidas. Elas passarem na frente e fomos os últimos a serem atendidos às 4:30 da matina!

Mesmo assim, no dia seguinte acordei cedo para recuperar as energias naquela corridinha pelo Parque Del Este. Quando chegava perto do areal duas moças vieram correndo no sentido contrário, me dizendo para voltar. Depois me explicaram que tinha acabado de ser roubadas por 3 rapazes escondidos entre os coqueiros.

Pelo menos cheguei em casa e tive uma grata surpresa: como o Supermercado na frente de casa foi expropriado, estamos sem nada na geladeira, então pude me esbaldar numa bela Muzza com ketchup de desayuno!

Devia ter ficado no Pinel, meu amigo, ou será que estamos todos nele?

Ricardo

OBS: Ah, hoje tem protesto da oposição sentido centro e da situação no sentido contrário. Nada de cruzar o caminho delas!

Um comentário:

  1. Carica,
    Estava meio atrasado quanto ao seu blog, somente hoje me atualizei...
    Sensacionais as mensagens do Ricardo! Difícil dizer qual das duas é melhor... Ficaria com a primeira, mais otimista, mas não tem como negar que me diverti muito com a última!!!
    Em tempo, gostaria de fazer um protesto público... Não abandone a origem deste blog, o bom e velho Diário de Arepas!!!
    Sem dúvida alguma o Paralelo e Meridiano é mais elaborado, contém assuntos mais cabeludos e muito interessantes, mas estou sentindo falta dos bate papos descompromissados e assuntos supérfluos do Diário...
    Saudades meu velho!
    Abração!

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