quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Canja de Galinha, paciência e jogo de cintura não fazem mal a ninguém

Inspirado num texto que recebi do meu pai supostamente escrito pelo Alexandre Garcia, resolvi viajar na janelinha!

Abre parênteses. Se é realmente do autor ou não, não sei, mas é bacana e vale á pena ser lido, então coloco ao final do post. Fecha parênteses.

A viagem começou tumultuada porque perdi a hora de acordar e o táxi também chegou atrasado, mas como a estrada para o aeroporto às 4 da matina está bem livre, conseguimos recuperar o tempo.

Depois do check-in, mais tranqüilo que não perdi o vôo, veio o segundo imprevisto, não tinha dinheiro vivo para pagar a taxa do aeroporto e o único caixa eletrônico do aeroporto estava “fuera de servicio”.

A saída passou a ser trocar dólares com os carregadores de mala e taxistas de plantão na área de desembarque. O problema é que a Guarda Nacional estava fazendo um “operativo” no aeroporto e todo mundo estava com as “atividades” suspensas temporariamente. Liguei para um amigo que me indicou um amigo que resolveria meu problema, e quando falei com ele me disse: “Nos vemos en el baño al lado de la aduana”.

De frente para a parede fingindo um xixi, fiquei pensando, tomara que seja amigo do amigo mesmo porque para eu me dar mau nesse banheiro vazio é fácil. Antes que eu pudesse pensar em que utensílio de um banheiro público melhor serviria como arma branca, entrou o senhor banguela com o uniforme de carregador de malas, me entregou um bolo de notas de 20 bolívares e levou a notinha de 100 dólares que sempre levo de emergência na carteira, sem dizer uma palavra. Conferi o dinheiro e saí me sentindo “o malandrão”, curtindo a adrenalina do ilícito!

A outra chateação veio quando embarquei e vi que a viagem seria bem mais desconfortável que o esperado. Na hora que vi meu lugar, lembrei da cara mau-humorada da agente da linha aérea quando perguntei: “Hay más espacio para las piernas en la salida de emergencia?” A resposta: “Claro que si!” A seguinte pergunta que fiz: “Y el asiento reclina?” Outra resposta super simpática: “Si.” Última pergunta: “Hay ventana?” Última resposta balbuciada: “9K.” E minha confirmação alegre: “Perfecto”, comemorando, “Vou de janelinha na saída de emergência!” Mas não foi bem assim...

O assento estava espremido entre um senhor de seus quase duzentos quilinhos (típico peso-pena Venezuelano), uma porta de emergência que não deixava minha perna direita entrar e um banco que não reclinava. Como não tinha outro lugar livre no “buzão alado” pensei: “Samba do avião cantado pelo Tom e a vista do amanhecer pela janela vão melhorar essa viagem”, mas o IPOD estava sem bateria.

O que fazer?

Nada.

Lembrei da Sra. Marta e sua frase: “Relaxa e goza!” mas lembrar dessa personalidade do nosso mundo político não ajuda nesses processos de “contenção de encostas”, então lembrei do texto do Alexandre Garcia e sem gozar, relaxei.

Com paciência e jogo de cintura os PROBLEMAS ficam mansinhos, e a Cordilheira dos Andes entre a Colômbia e a Venezuela vista da janelinha uma beleza de encher os olhos.

Por Alexandre Garcia .



Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista, cada vez mais rápido até a decolagem.
Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.. Tudo era novidade e fantasia..
Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.
As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.
O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
As poltronas do corredor agora eram exigência . Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.
Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.
Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.
Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?
Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, os amigos , tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.
Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo', pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe.
Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.
... em sua proxima viagem prefira sentar na janelinha !

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